Sem querer parecer
brejeira, nas palavras e atitudes, e sem querer fazer distinções entre
indivíduos, vejo-me obrigada a constatar uma evidência. Sou povinho.
Volta e meia sou
convidada pelo meu irmão para passeios e encontros de convívio de
funcionários da empresa X onde trabalha que visam promover o
convívio entre pessoas na empresa.
Por
presenciar conversas descomprometidas, constatei que os vencimentos mais
modestos da empresa X rondam os dois mil euros. Muito diferente da minha
realidade, que usufruo de um vencimento escandalosamente humilde, e que quando
cai é automaticamente direccionado para as continhas básicas do dia a dia.
Mas
não é por aí, cada um tem o que tem, a felicidade é muito relativa!
A
noção que eu tenho é que quem ganha confortavelmente bem, não faz a mais
pálida ideia como o povinho se aguenta. De como o povinho tem de constantemente apertar o cinto, de como o povinho "tapa buracos". De como o povinho se sente a meio do mês já sufocado, desejando chegar o dia 30 para receber novamente.
Algumas conversas
nas quais tomo parte, começam a dada altura a ter intervenções da minha pessoa
cada vez mais reduzidas, ao ponto de no fim, me apetecer grunhir e sair
disparada a imitar uma avestruz a bater asas e pular dali para fora!
Directora X - Então
Maria, onde pensa ir de ferias este ano!?
Olhe...
Recomendo Austrália, passei lá 15 dias fantásticos e tenciono de lá voltar,
ficou muito por ver!
Maria - Ahh
em principio vou com a família para o norte...
Directora X - O
ano passado fui a Eurodisney com as minhas irmãs e amigas! Só mulheres, foi fantástico!
Não conhece?
Maria - Ahhh...
Ainda não tive oportunidade!
Entretanto no passeio:
A dada
altura na caminhada, parámos perto de um campo com mesas de pedra para
“piquenicar”. Sabendo de antemão que íamos fazer um piquenique, preparei para
mim, o C. e o meu irmão, uma cesta com iguarias cuidadosamente embaladas.
Como
sou muito minuciosa e atenta a pormenores. Coloquei na cesta, uma toalha, guardanapos.
Copinhos e bebidas. Tupperwares com croquetes, pasteis de bacalhau. Outro com
fatias de pizza. E um saco com sandochas embaladinhas individualmente. E para
finalizar uma caixinha com bolinhos.
À
chegada ao local, preparei a mesa para o almoço. E sentámo-nos. Quando estava a
começar a comer, reparei que a chefe do meu irmão, o chefe da chefe do meu
irmão mais um colega, mais os respectivos cônjuges, dirigem-se a minha mesa e sentam-se com cara de
esfomeados com uma sandes de compra na mão e a lamberem as beiças
para as minhas coisas.
Obviamente
que ofereci, se eram servidos…
Não
esperaram para oferecer a segunda vez. Paparam de tudo o que a Maria tinha para
oferecer. Depois do bandulho satisfeito, começaram as conversas e graçolas.
Entre boa disposição diz-me de repente a chefe do meu mano em sotaque espanhol,
pois a senhora é colombiana.
Directora Y -
Aiii…Maria! Ostede és tan preciosa nos pormenióres! Tudo ton compuesto. Tão
agradabile e limpinho. Imadjino la sua casita!
Maria - ….
Pois, gosto de tudo “compuesto”!
Directora Y - Que
piena, se morasse pierto de Lisbonna, ía a mi casa hazer limpiezas. Nem imadjina como tengo a mi casa ...ai ai...ai
Outra - E já agora ia à minha também! (diz outra a rir-se com um pedaço da minha pizza na boca.)
Se és
modesta e limpinha, tens gosto na nas tuas coisinhas? Então podes seguir a carreira extremamente aliciante de ser mulher a dias em casa de dondocas que se assumem como porcalhotas! (só porque não têm tempo, né?)
Fiquei assim sem jeito, entendem-me, não entendem??